Mudanças... (II)
A lição que nasceu dos acontecimentos envolvendo as manifestações
de massa dos últimos dias, dão conta de uma realidade que passa quase desapercebida
diante de tantas noticias, a de que a forma de comunicação atual vai impor
mudanças profundas no cotidiano das organizações da sociedade civil.
Por causa da Internet e das redes sociais, nunca se discutiu tanto
em nosso país e no mundo temas que eram nitidamente quase que propriedade
exclusiva das grandes redes de comunicação e agências de noticias. O produto
noticia sempre entregue pronto e acabado. Na verdade era quase imperceptível para a
maioria, a concentração de opiniões moldadas a interesses comerciais e
políticos, sem nenhum controle da sociedade.
Em não havendo regras, a criatividade da população e mais
precisamente da juventude subverteu a ordem estabelecida. Embora toda criação nessa área pode ser usada tanto para um fim como para
outro, esse descontrole se torna a cada dia um instrumento poderoso de uma nova
atitude democrática, ou de uma nova cara
da democracia, a digital, como dizem alguns estudiosos.
É verdade que uma parcela das camadas mais pobres da população
ainda não está inserida. Mas pelas
notícias alvissareiras anunciadas pela Telebrás e Ministério das Comunicações,
muito dessa realidade deve mudar para melhor nos próximos anos.
Mas se existe esse aspecto positivo da liberdade de expressão,
também estamos diante de um pode tudo, ou vale tudo, em forma de palavras e
expressões de toda natureza. Os
pensamentos extremistas se apresentam mais facilmente quando se está diante da
tela de um computador. Pessoas
aparentemente tranquilas explicitam seus mais rancorosos sentimentos, e atacam
e ofendem sem o mínimo respeito à opinião alheia.
De qualquer forma, um dos primeiros pontos positivos dessa nova
realidade, começou com a legislação que exigiu maior transparência nas
informações dos órgãos públicos, com tudo sendo colocado abertamente nos sites
de todos os principais poderes. Felizmente,
pequenas resistências estão sendo vencidas.
Mas e os partidos políticos tão severamente cobrados, como
reagirão a esses novos desafios da comunicação?
E as religiões? As entidades associativas de caráter empresarial e de trabalhadores? Como
manter a defesa de uma bandeira de lutas, ideológica ou programática, com um
mundo extraordinário em transformação, multifacetado, onde as pessoas cada vez se importam menos com gente que de
direção política aos seus anseios?
É claro que estou exagerando, mas o extrato de tudo que tem
acontecido explicita essa realidade: a negação da política por um movimento político muito forte. Ou a
negação dos partidos, mesmo que as bandeiras claramente identificadas de alguns,
tenham sido assumidas sem maior avaliação.
O paradoxo é interessante: nunca as pessoas em tão grande número,
fizeram política de uma forma tão intensa e articulada, mobilizando milhares à
partir de suas casas, do escritório, da sala de aula, da rua ou de qualquer
lugar. Foi uma aula de mobilização.
Mas essa situação nos coloca diante da necessidade de construir
novos caminhos, pois acredito que estamos todos desafiados a criar uma nova
estrutura institucional ampla, capaz de abarcar essa multidão de cidadãos online dispostos a
participar. Teremos que pensar medidas
mais inteligentes que aproveitem melhor essa expressiva participação, e que
impeça que o excesso de opiniões resulte em caos e frustrações futuras.
Vilson Roberto
Ex-Prefeito
de Cruz Alta – 2005/2008 e 2009/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário