O PREÇO DA DEMOCRACIA
“Uma sociedade só é
democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém; e quando
ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém”(Jean-Jacques Rousseau)
Apesar de não parecer, tenho mais de
30 anos de vivência como militante político desse país continental. Comecei a caminhada me envolvendo na luta
por democracia e justiça social, numa época em que falar sobre isso era
considerado subversão a ordem estabelecida.
Apesar da falta de liberdade e de
perspectivas de mudanças, era também um tempo de preparar a terra para semear
sonhos e construir formas de transformar aquela realidade.
Como sempre acontece em tempos
difíceis e duros na história da humanidade, vi surgirem homens e mulheres
maiores na forma de viver suas vontades.
Além de coragem, tinham muito
claro a razão pelo que lutar, o objetivo
pelo qual valia arriscar tudo, inclusive
a própria vida.
Como para lutar não se ganhava nada,
financeiramente falando, era necessário muita doação e companheirismo para
enfrentar o cotidiano de dificuldades.
Para fazer política era preciso convicção e ideais profundamente
enraizados na luta histórica dos trabalhadores no mundo.
A maioria dos militantes de
esquerda tiravam do próprio bolso os
recursos para o trabalho de formação, para se deslocar em viagens e para
produzir material de propaganda.
Esses valores ficaram impregnados em
mim ao longo da vida, para nunca esquecer a caminhada e nunca pensar que sou
maior do que realmente sou.
Veio então a experiência das
eleições: participei de todas as campanhas nos últimos trinta anos, sendo
candidato em cinco delas. Para
vice-prefeito em 1988, vereador em 1992, vereador eleito em 2000, Prefeito eleito em 2004 e
2008.
Participar de eleições como
candidato, foi simplesmente uma consequência da luta social. Sempre acreditei na política como ferramenta
de luta por um mundo melhor e mais justo.
Mas como tudo que experimentamos na
vida, sempre fica um pouco de lembranças das experiências positivas e
negativas, e como já falei um pouco das boas, quero convida-los
a refletir sobre situações vividas por conta da cultura que existe da
troca de votos por favores. É uma
realidade triste, mas que acontece em
todas as eleições, e tem se repetido como um processo natural que nem as
campanhas feitas nas redes de rádio e tv, nem as leis mais rígidas, são capazes
de interferir nessa cultura torta de votar em troca de algum beneficio
imediato.
Algumas pessoas enxergam como uma
safra de oportunidades, e alguns políticos como a única forma de alcançar o
voto. Onde está a culpa? Quem nasceu
primeiro? O ovo ou a galinha?
Quem fez da política um jogo de
interesses pequenos e mesquinhos?
Essa cultura impregnada na sociedade,
facilita o surgimento de políticos vigaristas e corruptos, e “lacaios das
empresas”, como disse Brecht, criando um circulo vicioso que só termina quando
alguém tem coragem de romper e a justiça de cumprir o papel de condenar.
O pior de tudo isso, é que fica
difícil comemorar a vitória sobre a
corrupção eleitoral, visto que ela continuará viva em outras formas, escondida
nas sombras do cinismo, da hipocrisia e da esperteza de alguns.
No mundo, guerras são iniciadas todos
os dias baseadas nos mesmos princípios de iniquidade. Corporações empresariais poderosas mandam
mais do que os governos eleitos democraticamente. Mas a vida continua.
Aposto nas conquistas e nas vitórias
já consolidadas. Acredito na capacidade
das pessoas em reagir de forma coerente, organizada, lutando a favor da
democracia verdadeira.
O povo, esse grande gigante, que não
tem consciência do seu tamanho, poderá sempre fazer a sua pequena
revolução. Basta se interessar mais
pelas coisas que acontecem ao seu redor.
“O pior analfabeto é o analfabeto
político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do
aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”(Bertold Brecht)
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”(Bertold Brecht)
Vilson Roberto
Ex-Prefeito de Cruz Alta –
2005/2008 e 2009/2012.
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