segunda-feira, 10 de junho de 2013


O PREÇO DA DEMOCRACIA

“Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém; e quando ninguém for tão pobre que tenha de se vender a alguém”(Jean-Jacques Rousseau)

Apesar de não parecer, tenho mais de 30 anos de vivência como militante político desse país continental.   Comecei a caminhada me envolvendo na luta por democracia e justiça social, numa época em que falar sobre isso era considerado subversão a ordem estabelecida.

Apesar da falta de liberdade e de perspectivas de mudanças, era também um tempo de preparar a terra para semear sonhos e construir formas de transformar aquela realidade.  

Como sempre acontece em tempos difíceis e duros na história da humanidade, vi surgirem homens e mulheres maiores na forma de viver suas vontades.   Além de coragem, tinham muito claro a razão pelo que lutar,  o objetivo pelo qual  valia arriscar tudo, inclusive a própria vida.

Como para lutar não se ganhava nada, financeiramente falando, era necessário muita doação e companheirismo para enfrentar o cotidiano de dificuldades.  Para fazer política era preciso convicção e ideais profundamente enraizados na luta histórica dos trabalhadores no mundo.  

A maioria dos militantes de esquerda  tiravam do próprio bolso os recursos para o trabalho de formação, para se deslocar em viagens e para produzir material de propaganda.

Esses valores ficaram impregnados em mim ao longo da vida, para nunca esquecer a caminhada e nunca pensar que sou maior do que realmente sou.

Veio então a experiência das eleições: participei de todas as campanhas nos últimos trinta anos, sendo candidato em cinco delas.   Para vice-prefeito em 1988, vereador em 1992, vereador  eleito em 2000, Prefeito eleito em 2004 e 2008.

Participar de eleições como candidato, foi simplesmente uma consequência da luta social.   Sempre acreditei na política como ferramenta de luta por um mundo melhor e mais justo.

Mas como tudo que experimentamos na vida, sempre fica um pouco de lembranças das experiências positivas e negativas, e como já falei um pouco das boas, quero  convida-los  a refletir sobre situações vividas por conta da cultura que existe da troca de votos por favores.   É uma realidade triste,  mas que acontece em todas as eleições, e tem se repetido como um processo natural que nem as campanhas feitas nas redes de rádio e tv, nem as leis mais rígidas, são capazes de interferir nessa cultura torta de votar em troca de algum beneficio imediato.

Algumas pessoas enxergam como uma safra de oportunidades, e alguns políticos como a única forma de alcançar o voto.   Onde está a culpa? Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?

Quem fez da política um jogo de interesses pequenos e mesquinhos?

Essa cultura impregnada na sociedade, facilita o surgimento de políticos vigaristas e corruptos, e “lacaios das empresas”, como disse Brecht, criando um circulo vicioso que só termina quando alguém tem coragem de romper e a justiça de cumprir o papel de condenar.

O pior de tudo isso, é que fica difícil comemorar  a vitória sobre a corrupção eleitoral, visto que ela continuará viva em outras formas, escondida nas sombras do cinismo, da hipocrisia e da esperteza de alguns.

No mundo, guerras são iniciadas todos os dias baseadas nos mesmos princípios de iniquidade.   Corporações empresariais poderosas mandam mais do que os governos eleitos democraticamente. Mas a vida continua.

Aposto nas conquistas e nas vitórias já consolidadas.   Acredito na capacidade das pessoas em reagir de forma coerente, organizada, lutando a favor da democracia verdadeira. 

O povo, esse grande gigante, que não tem consciência do seu tamanho, poderá sempre fazer a sua pequena revolução.   Basta se interessar mais pelas coisas que acontecem ao seu redor.

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”(
Bertold Brecht)

Vilson Roberto

Ex-Prefeito de Cruz Alta – 2005/2008 e 2009/2012.

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