Os donos do mundo
No final da década de 80 e no
inicio dos anos 90, vivíamos um período onde as mudanças políticas no país eram
disputadas e reivindicadas em todas as oportunidades de luta que surgiam. A busca por mais democracia era intensa, e as
barreiras existentes oriundas dos 21 anos de ditadura caiam uma após a outra.
Criamos enfim, um novo
momento nas relações de poder.
O conhecimento adquirido e
a compreensão de antigos embates e transformações históricas, instigaram muitos
de nós a procurar respostas para compreender melhor como se organiza ou se
impõe as formas de dominação existentes.
Os mecanismos de controle do pensar coletivo, e a dificuldade em
entender claramente como tal situação se estabelece.
Pois os últimos
acontecimentos históricos envolvendo os americanos Bradley Manning e Edward
Snowden, mais o Filme "O dia que durou 21
anos”, documentário sobre o Presidente Jango, deixa claro e evidente que
nunca houve paranoia nem exagero nas denúncias apresentadas: os Estados Unidos funcionam mesmo como um
Império e tudo fazem para garantir o poder político e econômico sobre as nações. Exemplos não faltam: guerras como a do Iraque,
onde a desculpa principal foram a existência de armas químicas e de destruição
em massa que jamais foram encontradas. Ou
ainda os Golpes de Estado em países democráticos, como Chile, Guatemala e
Brasil.
E agora, mais recente, a
comprovação da invasão de privacidade através da internet e de ligações
telefônicas, onde ninguém está protegido de ter seus dados e informações bisbilhotados
ilegalmente.
Essas informações sigilosas,
minimizadas pelo governo estadunidense, além de favorecer empresas americanas em
seus negócios pelo mundo afora, servem também, como já foi divulgado, para
conhecer secretamente a posição de governos sobre temas estratégicos, como se
desconfia no caso do Brasil, sobre o negócio bilionário para compra dos aviões
para a Força Aérea. Tudo isso deixa explícito
uma verdade que choca e coloca em cheque a visão que se tem da maior “democracia
do mundo”.
No seu depoimento, o
soldado americano que vazou informações ao WikiLeaks, Bradley Manning, deu uma
declaração em que se responsabilizou pelos vazamentos e apontou seus
motivos. Ele mencionou especificamente o
vídeo do ataque de um helicóptero Apache que trucidou uma dúzia de civis em Bagdá,
em 12 de julho de 2007.
Já Snowden, no dia 10 de junho em sua primeira entrevista
por vídeo ao Guardian, fez uma afirmação assustadora: "Eu, sentado em
minha mesa", disse Snowden, “poderia grampear qualquer um, desde você e
seu contador até um juiz federal ou mesmo o presidente, precisando apenas do
e-mail pessoal".
Na mesma linha de histórias
que expõem a verdadeira face do Império, temos o lançamento nacional do filme "O dia que durou 21 anos”, que procura
mostrar através de documentos, gravações da época e entrevistas, como
aconteceram os fatos que levaram ao Golpe Militar no Brasil e a morte de Jango
na Argentina.
Na última terça-feira, num programa
na Globonews, o
jornalista Flávio Tavares e seu
filho Camilo Tavares que fizeram o documentário, mostraram uma gravação
do então Presidente John Kennedy e o embaixador americano no Brasil Lincoln
Gordon. O filme mostra Kennedy dando o
sinal verde ao embaixador Gordon para preparar a conspiração no Brasil. Além
disso, aborda a compra de deputados brasileiros pelo governo americano por uma
quantia tão alta que chegou a surpreender Kennedy(seria corrupção?). Governadores de oposição também teriam
recebido “incentivos”. Segundo
avaliaram, João Goulart poderia se transformar em
um “ditador populista” como o argentino Perón. E o tema da Reforma
Agrária deveria ser o argumento para criar o clima do caos comunista, da
ameaça. O outro fato interessante é que o adido militar Vernon Walters, que conhecera
Castelo Branco, (o primeiro Presidente Militar) na Segunda Guerra Mundial descreve
o amigo como “altamente competente, oficial respeitado, católico devotado e
(que) admira o papel dos EUA como defensores da liberdade”, portanto, alguém
confiável.
Tudo isso junto, mostra as
faces da mesma moeda. O vale tudo da
política internacional americana assombra pela perversidade e desrespeito a
privacidade dos indivíduos e da soberania dos países.
Mas o que dizer daqueles que se submetem aos
interesses de outros países? Como
classifica-los?
Sinceramente, é possível
afirmar sem equívocos que o maior erro não está na atitude autoritária e
prepotente dos EUA, mas na postura de nossas instituições e na histórica
subserviência de algumas de suas lideranças. Com certeza, depois de tudo o que
sabemos, já não cabe mais a ninguém alegar desconhecimento e inocência.
Vilson Roberto
Ex-Prefeito de Cruz Alta – 2005/2008 e 2009/2012.
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